Os almanaques natalinos eram o grande presente de fim-de-ano.
Por que gosto de gibi?
Às vezes, costumo me questionar: Por
que gosto tanto de gibis? Sério! Com tanta coisa importante no mundo, dispender
tanto tempo e esforço por algo aparentemente fútil chega a ser ridículo,
principalmente em tempos em que boa parte do romantismo que circundava os gibis
mingou sem deixar rastros.
Na verdade, o gibi não é apenas uma questão de distração, de pura diversão. Ele está arraigado na cultura, não apenas brasileira, mas de boa parte do mundo.
Cresci cercado pelas revistas de
histórias em quadrinhos e suas referências simbólicas ao enfrentamento do bem
contra o mal. Parodiando Gilberto Gil, posso afirmar que eles constituíram uma
etapa necessária que me deram “régua e compasso” para enfrentar a realidade
cotidiana ao me ajudar a desenvolver meu senso estético, de justiça e as posturas
sociais crítica, tolerante e de aceitação das diversidades.
Contra-capa do Globo Juvenil Mensal de setembro de 1941
Contra-capa do Globo Juvenil Mensal de setembro de 1941
Desta forma, acredito que tenha
contribuido para desenvolver e aprimorar, desde os primórdios de minha educação
formal, uma perspectiva cultural essencial para minha evolução de homo sapiens.
Tudo isto me ajudou a amadurecer a ideia de que a real importância das coisas é sempre relativa. Por isso, deste viés, sem piegas ou exageros, considero os
quadrinhos uma forma de comunicação de massa essencial ao aprimoramento cognitivo
e afetivo de crianças, adolescentes e adultos. Talvez seja por isto que eu
gosto de gibis.
Ainda hoje, experimento, na forma
de breves e intensos flashes (clarões), as emoções ainda vivas de vários gibis
que passaram pelas minhas mãos e pelos meus olhos ansiosos por emoções.
Se não estou enganado, o meu primeiro contato com o gibi foi em 1942. Tinha simplesmente cinco aninhos (setenta, a menos, de que tenho hoje) e, lógico, ainda não sabia ler (as palavras) com a necessária competência, mas conseguia “ler”, admirar e entender (até certo ponto) as intenções expressas pelas figurinhas coloridas ou, em sua maioria, em preto e branco. Digo até certo ponto porque fazia uma deliciosa mistura da minha ingenuidade e inocência fantasiosa da infância com o não menos fantasioso e fantástico mundo dos quadrinhos que se descortinava sedutor ante meus olhos abertos, ávidos e fascinados. Foi, sem dúvida, a época em que vivi, com toda intensidade, a magia dos gibis.
Para o seu deleite, amigo leitor, baixe o exemplar do Gibi trisemanal de quarta-feira, 21 de janeiro de 1948.
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