segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

CALVIN & HAROLDO - BILL WATTERSON

REPRODUZINDO ARTIGOS DE JORNAIS


HQ Coletânea de Calvin & Haroldo traz momentos mais significativos da tira, com comentários e a filosofia do cartunista criador


Bill Watterson contra o mundo, em suas palavras





CHICO CASTRO JR. (A Tarde, 23.12.2013)
Autor de Calvin & Haroldo, uma das tiras de quadrinhos mais adoradas da história dessa mí­dia, Bill Watterson sempre foi uma figura esquiva, avessa a badalações e à exploração co­mercial indiscriminada de sua criação. Em O Livro do Décimo Aniversário, recém-lançado, o próprio Watterson explica suas posturas diante da indústria.


Como os seguidores da filo­sofia calviniana devem saber, Watterson parou de produzir e nunca mais retomou as tiras da série em 1995, apenas dez anos após o início, em 1985.

Este álbum foi lançado justamente no ano da interrupção, como uma despedida, reunindo os momentos mais significativos de Calvin, Haroldo e a turma, com a adição dos preciosos comentários do autor.


Como Watterson quase nunca dá entrevista (só concedeu duas desde 1995), o livro do Décimo Aniversário é uma rara oportunidade de saber o que pensa o recluso autor, que fala em primeira pessoa sobre vários assuntos, sem meias palavras.

Watterson abre o livro com quase 20 páginas de texto cor­rido, abordando desde a mídia quadrinhos em si aos personagens coadjuvantes de Calvin, passando pelo sistema dos syn­dicates, sua luta contra o licenciamento de sua criação, períodos sabáticos, etc.


Latifúndio em quadrinhos
As maiores bordoadas do cartunista sobram mesmo é para o "sistema"- leia-se jornais e syn­dicates (empresas que dominam a distribuição das tiras).

Aos jornais, Watterson atribui "restrições severas às tiras". "Te­mas controversos e opiniões de caráter pessoal raramente são tolerados. As necessidades mer­cadológicas dos grandes jornais estão sempre acima da preocupação com a expressão artística", constata. Para complicar, a maior parte do espaço disponível - "dimi­nuto", para o autor é latifúndio de tiras que se estendem por gerações, tornando-se verdadeiras instituições.

Esses desentendimentos eram ridículos.
Eu devo ser o único cartunista do mundo
que lamenta o sucesso alcançado por seu trabalho" BILL WATTERSON, cartunista


"Blondie já está nos jornais há 65 anos e Recruta Zero, Dennis 0 Pimentinha e Peanuts já su­peraram os 40 anos de publi­cação", contabiliza Watterson. Mesmo uma tira mais recen­te, como Doonesbury, já existe há 25 anos - ou seja, um quarto do tempo de existência da pá­gina de quadrinhos nos jornais (surgida em 1895). A rotativi­dade na elite desse tipo de ne­gócio é baixíssima", nota. Vale lembrar que este texto foi publicado há 18 anos. 0 resultado desta combina­ção de espaço cada vez menor com baixa rotatividade tem sido fatal para o gênero das tiras: "Sessenta anos atrás, as melho­res tiras não eram só desenhinhos divertidos, eram também belíssimos. Não consigo pensar em uma tira atual que chegue perto desse nível de capricho". 

Contra o licenciamento
Mas o que realmente impressiona em Watterson é a sua ferrenha determinação em não entregar seus "filhos" à sanha mercantilista da indústria. Quem gosta de Calvin sabe: qualquer camisa, caneca ou lancheira com o menino e seu tigre estampados é ilegal e pirata pois o autor jamais permitiu a produção e comercialização de qualquer produto, fora suas tiras em jornais e coletâneas.
 
"Quando o quadrinista licencia seus personagens, sua voz é cooptada pelos interesses dos fabricantes de brinquedos, produtores de programas televisivos e publicitários", afirma."Os personagens em si se tornam celebridades (...), diz apenas aquilo que é destinado por quem os paga. Quando chega a esse ponto a tira perde sua alma" conclui.

Calvin & Haroldo, o livro do décimo aniversário/ Bill Watterson, Conrad/208 p./R$47, pode ser adquirido no endereço: Conrad/208 p./R$47/www.lojaconrad.com.br


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