sábado, 13 de setembro de 2014

COMENTANDO NOTÍCIAIS DE JORNAIS - 13.09.2014 - ATENÇÃO NÃO SE TRATA SOMENTE DE QUADRINHOS




JC Teixeira Gomes
Jornalista, membro da Academia de Letras da Bahia



MEUS COMENTÁRIOS: Concordo com o conteúdo do artigo, particularmente com a citação: "Nunca aceitei a ideia do direito histórico dos judeus à Terra Prometida como algo evidente."

E os argumentos: "Assim, ao contrário da opinião de meus críticos, não sou nem nunca fui contra Is­rael, mas sim contra os métodos dos seus governos militaristas, quando matam civis e crianças palestinas a pretexto de liquidar terroristas e seus foguetes. Com 0 mesmo propósito, já critiquei os EUA por terem lançado bombas atômicas sobre 0 Japão e usado napalm no Vietnã."

"... não haverá paz no Oriente Médio, cujos pro­blemas até hoje decorrem dos apetites do colonialismo inglês e europeu sobre o pe­tróleo árabe, sem a criação do Estado pa­lestino, cujo povo se sentiu esbulhado e de­serdado com a criação de Israel."

Quem quiser ler, na íntegra, basta acessar o post abaixo:


"Estava arrumando as malas para ir à Rússia (já me encontro em Moscou), quando li o artigo do dr. Luiz Rechtman em resposta aos meus sobre o Oriente Médio. Para mim é sempre penoso ter que escrever para reafirmar que não sou o que nunca fui, ou seja, contra a existência de Israel. Enfim, as polêmicas que pontilham minha carreira jornalística me conferiram dura têmpera, só­lida couraça, amorosa paciência.

No livro A invenção da terra de Israel (SP, Bonvirá, 2014), o ilustre judeu Schlomo Sad, mestre da Universidade de Tel-Aviv, ex-sol­dado israelense, escreve: “Nunca aceitei a ideia do direito histórico dos judeus à Terra Prometida como algo evidente”. Apesar do eminente intelectual, prefiro citar outra frase, esta da grande correspondente inglesa de guerra Martha Gellhom, quando disse: "A Alemanha nazista tomou Israel essencial”. É também minha convicção.

Assim, ao contrário da opinião de meus críticos, não sou nem nunca fui contra Is­rael, mas sim contra os métodos dos seus governos militaristas, quando matam civis e crianças palestinas a pretexto de liquidar terroristas e seus foguetes. Com 0 mesmo propósito, já critiquei os EUA por terem lançado bombas atômicas sobre 0 Japão e usado napalm no Vietnã.

A pergunta que faço agora aos críticos e leitores em geral é a seguinte: tem o governo brasileiro o direito de usar artilharia pesada e bombardeios sobre as favelas da Rocinha e do Complexo do Alemão, no Rio, para liquidar com os traficantes e assassinos do crime or­ganizado, tão perigosos como terroristas? Se­ria justificável uma ação radical contra os bandidos brasileiros, contaria com apoio po­pular a morte dos civis das favelas?

O  exército israelense tenta aliviar a gra­vidade da ação divulgando que adverte pre­viamente sobre os ataques. Quanta gentileza! Mas as bombas massacram da mesma ma­neira, destroem bairros inteiros e não dis­tinguem entre civis, crianças e terroristas, que não precisam de escudos humanos para agravar o que bombardeios indiscriminados podem fazer.

Outro ponto das minhas convicções é que não haverá paz no Oriente Médio, cujos pro­blemas até hoje decorrem dos apetites do colonialismo inglês e europeu sobre o pe­tróleo árabe, sem a criação do Estado pa­lestino, cujo povo se sentiu esbulhado e de­serdado com a criação de Israel. De nada resolve o Dr. Rechtman alegar que 0 assassino judeu do grande líder Rabin, que negociava a existência do Estado palestino, foi preso. Com seu crime ele conseguiu evitar a paz, que, aliás, não interessa também aos fabricantes e vendedores de armas, ativos no Oriente como no resto do mundo.

Temos a tendência de ver o Ocidente como pátria de heróis e o Islã de vilões fanáticos e degoladores, nós os bons, eles os maus, mas omitimos nossos genocídios étnicos, a fúria assassina dos cruzados cristãos e quantos seres humanos queimamos nas fogueiras da Igreja.

Até Cristo torturamos numa cruz! Terroristas ou não, os homens têm sido, no globo inteiro e em todas as épocas, a peste da natureza.

Vou surpreender agora meus interlocutores de ascendência judaica, narrando um segredo íntimo: na década de 50, estive loucamente apaixonado por uma morena judia baiana, tão bela como as moças de Salomão. Não pude me casar apenas pela discriminatória interdição da lei judaica. Caso contrário, é bem provável que fosse o pai de uma chusma de judeuzinhos abaianados, frequentando alternadamente igrejas e sinagogas, com o solidéu na cabeça... Quem sabe não teria ido morar em Tel-Aviv e servido à Haganah, o exército primitivo israelense, me envolvendo até nas guerras locais?...

Amigos, jamais duvidem das surpresas da vida e da imprevisibilidade dos fados. Em suma, façamos todos juntos como o grande maestro Daniel Baremboim, judeu-argentino, que criou uma magnífica orquestra de jovens israelenses e palestinos para abafar, com a magia da música, 0 fragor dos bombardeios o mortais. Shalom!

J.C. TEIXEIRA GOMES ESCREVE QUINZENALMENTE NO SÁBADO. ESTE ARTIGO RESPONDE AO DE LUIZ RECHTMAN (6.9.14), QUE FOI UMA RÍPLICA AOS DOIS ANTERIORES DE T. GOMES. A POLÊMICA PODE SER LIDA NO PORTAL: ATARDE.COM.BR/OPINIAO



MARINA SILVA FALA COM DEUS?
Qualquer que seja o resultado desta eleição, Marina Silva já pode se considerar vencedora. Senão pelo fato de ter superado todas as dificuldades que pintaram na primeira parte de sua vida (malária, pobreza, contaminação por mer­cúrio...), pelo menos - e principalmente - pela surpreendente notícia de que ela, co­mo se fora uma espécie de escolhida, man­tém uma linha direta com ninguém mais, ninguém menos, do que Deus. Caraca!


Em se confirmando essa poderosíssima conexão, não tenho dúvidas de que a ex-senadora fatalmente será eleita, já que ne­nhum outro candidato demonstrou possuir um interlocutor de tamanho calibre, em­bora Dilma esteja convicta de que Lula pos­sui atributos que lhe conferem certa equi­valência com o Altíssimo. Em todo caso, diante desse acontecimento tão extraordi­nário, peço desculpas aos fanáticos de plan­tão, mas não tem como não imaginar o que poderá acontecer caso ela seja a nossa pre­sidente. Simbora.

Meados de 2015, véspera de uma impor­tante votação no Congresso. Depois de se­rem inocentados de alguma nova malan­dragem, Renan, Lobão e Sarney (com um tubo de oxigênio sob a cadeira de rodas) chegam ao Palácio do Alvorada para mais um achaque travestido de reunião. Antes de descer para recebê-los, Marina resolve con­versar com Deus e, para tanto, segue à risca o ritual da canção de seu ministro Gilberto Gil. A sós, ela apaga a luz, despe-se, tira os sapatos, lambe o chão do palácio e apesar do mal tamanho a lhe espreitar degraus abaixo, tem que alegrar seu coração.

Enquanto isso, num ponto qualquer do firmamento, Deus, depois de mais um dia daqueles tentando resolver os problemas da Faixa de Gaza - e ainda tendo que aturar as preces das torcidas do Bahia e do Vitória para livrá-los do rebaixamento tenta re­laxar tomando um vinho do porto e ou­vindo a trilha sonora de Cinema Paradiso. Na metade do tema de Totó e Alfredo, um insistente holograma com um mico-leão-dourado pulando de galho em ga­lho começa a piscar em sua frente, 0 que O leva a emudecer fagotes e oboés com um gesto de mão idêntico ao que Jô Soares usa para silenciar O seu sexteto.

Em seguida, com o humor afiado, per­gunta: "0 que foi desta vez, Osmarina? Não me diga que é alguma revolução sexual na floresta, com os bichos querendo sair das tocas para reivindicar 0 acasalamento entre animais do mesmo sexo!”. Antes que ela prossiga, Ele continua: "eu bem que lhe avisei para não se meter na política e que era bem melhor pra você ter continuado convivendo com curupiras, sacis e mulas-sem-cabeça entre seringais e igarapés”. “Mas senhor, eu...”.

E antes que ela continuasse, Deus en­cerrou o assunto dizendo que lá, como cá, também existem os acordos entre o bi-partidarismo que rege o universo e que, para conter grandes tragédias e epidemias, é preciso fazer algumas concessões, como entregar a alma de certos políticos ao líder da bancada oposicionista das entranhas.

Em seguida, serve-se de uma dose de bourbon, balança o dedo como o maestro do mundo e a voz de Bob Dylan cantando Mr. Bojangles ecoa pela galáxia, abafando o choro do outro lado da linha.

JÂNIO F. SOARES ESCREVE SÁBADO, QUINZENALMENTE


HOMENAGEANDO CEDRAZ - Antonio Cedraz (1945-2014




CEDRAZ O GÊNIO DO LÁPIS





Chico Castro Jr.
"A vida é o que acontece en­quanto fazemos planos", disse certa vez o autor de Imagine durante uma entrevista. Em no­vembro do ano passado, o quadrinista baiano Antonio Cedraz delineou diversos dos seus (muitos) planos para este jor­nalista, durante uma entrevista para a revista Muito.

Após um longo período de combate ao câncer, Cedraz cur­tia um momento positivo: es­tava em remissão e planejava retomar a produção das tirinhas da Turma do Xaxado, interrom­pida desde que iniciara o tra­tamento, alguns anos antes.

Mais: tinha em vista a pro­dução de uma série de anima­ções do Xaxado para a TV e ou­tras publicações infantojuvenis de cunho educativo.

CEDRAZ E SUAS FABULOSAS CRIAÇÕES
Conversei durante um par de horas com Cedraz na sala de sua casa, em Brotas. Quando ter­minamos, o lépido cartunista me ofereceu uma carona de vol­ta para o jornal, la acertar al­guma exposição do Xaxado em um shopping da região do Iguatemi/Av. Tancredo Neves.

Na saída, notei o majestoso mandacaru que adorna a saída de sua garagem. O estalo foi imediato: "Cedraz, posso tirar uma foto sua na frente dessa planta?". Apressado, ele concor­dou e posou do jeito que estava: chaves do carro na mão, a fralda da camisa parcialmente dentro das calças. Saquei o celular e cliquei duas vezes.

XAXADO É A NOSSA MAFALDA
0 retrato íntimo, seguido da carona, foi a última vez que vi Cedraz pessoalmente. Algumas semanas depois, soube por amigos em comum que o câncer tinha voltado. "A vida é o que acontece enquanto..."

Ainda nos falamos por tele­fone depois disso, mas nem por um segundo senti medo ou tristeza. Tudo isto posto, afirmo que, an­tes de lamentar a perda de Ce­draz (algo inevitável), prefiro ce­lebrar sua brilhante passagem por este planeta.

REGIONALISMO NORDESTINO

A TURMA DO "BARULHO"
Maior nome dos quadrinhos baianos, era da Bahia que ele tirava inspiração para suas criações, mas, ao mesmo tempo, era também aqui que tinha me­nos reconhecimento - não que tivesse mágoa por isso. Não ha­via lugar no seu peito para res­sentimento.

Ainda assim, foi múltiplas ve­zes premiado com 0 Trofeu HQ- Mix, maior premiação dos qua­drinhos brasileiros. Foi consa­grado Mestre do Quadrinho Na­cional pelo PrêmioÂngelo Agos- tini, outra importante premia­ção. Viajava constantemente pelo país, recebendo homena­gens em feiras e convenções de quadrinhos infantis. Sua obra é objeto de estudo por pesqui­sadores, mestrandos e douto­randos no Brasil e no exterior.

ALÉM DE UM GÊNIO DO TRAÇO,, PERDI UM AMIGO! PARTICIPO DA PERDA DA FAMÍLIA (JOSÉ QUEIROZ)

Enfim: um raro baiano con­temporâneo reconhecido nacionalmente.








































nalmente por algo mais do que um belo par de pernas ou uma dancinha de gosto duvidoso.
"Meus próximos projetos são para contar a história de Maria Felipa e de Caramuru. O que não falta na Bahia é assunto: Guerra dos Alfaiates, Revolta dos Ma- lês, Cosme de Farias... Eu quero é dar ênfase à nossa história, à nossa cultura", disse ele a este jornalista durante uma de suas (muitas) entrevistas.
Não sei em que pé ele deixou estes projetos - ou mesmo se chegou a inicia-los. O que ele já deixou já é 0 bastante para içá-lo à condição não só de Mestre do Quadrinho Nacional, mas da própria cultura baiana.
Mais importante do que ago­ra pensar em estátua ou dar-lhe um nome de rua, é se certificar que sua obra nãoserá esquecida ou relegada ao mofo das pra­teleiras. É levar sua obra, tão importante e cheia de signifi­cados, universal e acessível tan­to para crianças quanto adultos, às escolas públicas e privadas, centros culturais - aonde for.
Por que Xaxado está para os baianos como Mafalda está pa­ra os argentinos.
Em suas tiras aparentemente infantis, Cedraz e a valorosa equipe do seu estúdio fizeram todas as perguntas que não ain­da cansamos de fazer: por que nosso povo vive na miséria, na fome e na ignorância enquanto a classe política goza de todas as benesses? Por que a seca? Por que 0 racismo? Porque a igreja? Por que os coronéis? Por que você isso? Por que eu aquilo? Tudo sem abrir mão da leveza, do humor, da inteligência. Isso, definitivamente, não é pouco.
Talvez por tudo isso eu, in­conscientemente, tenha tido 0 impulso de pedir a ele para po­sar com 0 mandacaru. Era óbvio que se tratavam de semelhan­tes: sertanejos fortes, talhados para prosperar na adversidade. Nunca 0 esqueceremos.
 

Antonio Cedraz / Divulgação
 

Xaxado e sua turma, criação imortal de Antonio Cedraz
 

Antonio Cedraz (1945-2014), à vontade em retrato íntimo feito pelo jornalista em novembro de 2013
 

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