terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ESTÁ NO GIBI


LOGOTIPO da revista tri-semanal GIBI. Encimando, a imagem do negrinho.

GIBI,SINÔNIMO DE REVISTA-EM-QUADRINHOS NO BRASIL
Gibi é substantivo masculino que significa negrinho, moleque; porém, para os leitores de quadrinhos do Brasil, significa muito mais: é o nome que emblematizou as revistas do mundo encantado das HQs.




NEGRINHO, o símbolo do logotipo da revista GIBI MENSAL


ESTRÉIA
Foi numa quarta-feira, 13 de abril de 1939 que surgiu a revista Gibi, sem data e sem numeração na capa. O título ficou tão popular entre os leitores, que passou a designar todos os tipos de revistas de quadrinhos no Brasil.



O GLOBO JUVENIL, irmão mais velho, anunciava em suas páginas o lançamento do GIBI TRI-SEMANAL


Capa do primeiro número da revista Gibi (CHARLIE CHAN,) lançada numa quarta-feira, 13 de abril de 1939, sem data e sem numeração


O MAIS POPULAR, MAS NAO O PIONEIRO

Foi a mais popular, mas não foi a primeira. A revista pioneira de quadrinhos, no Brasil, foi a legendária O TICO-TICO, lançada numa quarta-feira, 11 de outubro de 1905, criação do jornalista Luis Bartholomeu de Souza e Silva, que durou até 1961 e serviu de modelo para outras publicações (O Tatuzinho, O Juquinha, O Cômico Infantil) de existências fugazes. Lida avidamente até por Ruy Barbosa, o Tico-Tico revelou ao público brasileiro não apenas a segundo criação mais famosa de Outcault (Buster Brown), mas também personagens brasileiríssimos como Zé Macaco e Faustina (de Oswaldo Storni), K. Ximbown (de Max Yantok), a sestrosa empregada doméstica Lamparina (de J. Carlos), Bolinha e Bolonha (de Nino Borges) e um trio de meninos sapecas (Reco Reco, Bolão e Azeitona), que projetou nacionalmente o desenhista Luiz Sá. Mesmo depois de aposentado na matriz, Buster Brown (aqui batizado de Chiquinho) continuou sua carreira no Brasil, desenhado por Loureiro, A. Rocha, Alfredo Storni (irmão de Oswaldo), Paulo Affonso e outros.

O segundo marco foi o Suplemento Infantil (batisado, mais tarde, de Suplemento Juvenil), lançado em 14 de março de 1934 como encarte do jornal A Nação, do ministro João Alberto. Concebido pelo baiano Adolfo Aizen e com capa assinada por J. Carlos, fez tanto sucesso que se tornou independente a partir do 15.º número, passando a circular às terças, quintas e sábados, em cores e formato tablóide. Foi nas páginas do Suplemento Juvenil que chegaram ao Brasil os grandes heróis da Era de Ouro dos quadrinhos: Flash Gordon, Jim das Selvas, Tarzan, Agente Secreto X-9, Mandrake, Dick Tracy, Príncipe Valente, Terry. Com uma tiragem espantosa para a época (360 mil, nas três primeiras edições), deu-se ao luxo de promover artistas nativos, como Monteiro Filho, que, para concorrer com Jim das Selvas & Cia., criou o explorador Roberto Sorocaba.


QUADRINHOS SEM QUALIDADE?
Costuma-se dizer que as primeiras histórias em quadrinhos tinham roteiros primários e eram mal-desenhadas. Na verdade, comparadas com as publicações atuais, faltavam-lhes arte-final refinada e o colorido digital – produto recente da tecnologia de impressão.

Entretanto, sobravam-lhes a criatividade, o traço habilidoso – da melhor qualidade – e o sentimento, que se transmitia ao leitor, do entusiasmo dos autores que estavam construindo uma nova forma de arte, “à sua maneira desajeitada, porém mais esplêndida que seus descendentes modernos”. (1)

O abandono da sátira e do lirismo, a partir de 1930, e a criação de heróis e super-heróis caracterizaram a era de ouro. Outros gêneros também ganharam espaço. A malícia feminina aparece no vestido colante e na cinta-liga de Betty Boop, de Max Fleischer, e na pouca roupa de Jane, de Norman Pett. Al Capp revoluciona com Li’l Abner (Ferdinando, 1934), protagonista da série mais controvertida dos EUA, por satirizar violentamente os mitos do american way of life. Henry (Pinduca, 1932), o menino careca e sem boca de Carl Anderson, é precursor de crianças travessas como Dennis, o pimentinha.



A PI-NUP BETTIE PAGE, recentemente falecida, foi uma das heroínas que desfilaram nas páginas do GIBI.


QUALIDADE À MÃOS CHEIAS
Os primeiros gibis de Roberto Marinho tinham os formatos tablóide (Globo Juvenil tri-semanal) e meio-tablóide (Gibi tri-semanal) e custavam 300 réis. O GJ, tinha 16 páginas e o Gibi 32. As capas mostravam um colorido borrado, que vasavam através das linhas das figuras; as cores fundamentais misturavam-se grosseiramente, gerando um colorido final indefinido e de pouca qualidade. O mesmo acontecia com as páginas internas, a cores.

Também o preto-e-branco era de pouca qualidade -, borrões e falta de continuidade no traço. Talvez porque os desenhos, originais coloridos, ao serem convertidos para o preto-e-branco, perdiam as nuances de cores que não podiam ser mostradas, senão como espaços “vazios” no traço das figuras.

Apesar disso, dava-se para ver o que havia de melhor: o esplendor de Burne Hogarth, a elegância clássica de Alex Raymond, a criatividade esplendorosa de Hal Foster. Havia, também, o traço caricatural e o humor adulto, irônico e causticante, de Al Capp (Ferdinando); a narrativa regular e métrica, de Chester Gould (Dick Tracy); os roteiros da mais pura ficção científica, de William Ritt complementados com o traço original de Clarence Gray (Brick Bradford); a beleza do traço, de Jim Gary (Rei da Polícia Montada); a concepção dinâmica e elegante, de Charles Flanders (Zorro); as temáticas imaginativas de Lee Falk, tão bem concretizadas pelos desenhos de Phil Davis (Mandrake) e Ray Moore (Fantasma); e a estonteante e nunca superada narrativa verbal e visual de Milton Caniff com o seu Terry e Os Piratas. Exemplos indiscutíveis de que os quadrinhos dos primeiros tempos (tiras de jornais) tinham qualidade, beleza e roteiros intrigantes e criativos.


TEXTOS INSERIDOS NAS REVISTAS EM QUADRINHOS
Páginas de contos, em texto, era uma peculiaridade dos gibis da década de 40. Nunca os li nem na infância, nem na adolescência. Mas o fiz, quando adulto. Eram, habitualmente, histórias de guerra, espionagem e cowboys - geralmente um conto peso-pluma, escrito em prosa barata.

Entretanto, permaneceu-me uma dúvida: por quê os editores mantiveram as páginas de texto, mesmo sabendo que não eram lidas pela maioria dos leitores? Nos EUA o fato estava ligado a uma lei postal que prescrevia: para ser qualificado como “revista” e postado como correspondência de segunda classe (com porte postal mais barato), os editores de gibi precisavam incluir, no mínimo, duas páginas de texto puro. No Brasil, a prática foi simplesmente mantida, sem lógica, pois, não tínhamos tal lei.
Posteriormente, publicaram-se contos de personagens dos quadrinhos em texto puro (Vingador, Záz-Tráz, etc.), ou alternados com desenhos (Capitão Marvel, Brucutú) que, também, não foram aceitos pelos leitores e, por isso, tiveram de ser descontinuados.



O GIBI sumiu, PARA NÃO MAIS VOLTAR, na segunda tentativa feita nos anos setenta pela RGE



clique aqui para ler o GIBI 1561 NA ÍNTEGRA

2 comentários:

  1. ola, gostei muito do teu site, estou fazendo um trabalho de diplomaçao para auxiliar a impressao de revistas por novos quadrinistas, e quero referenciar teus scanners, favor entrar em contato comigo no email miscer@yahoo.com.br

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  2. Olá José Pinto!

    Sou Nertan Silva e,
    antes de tudo, parabéns pelo Blog! É um resgate muito útil para nossa cultura artística e estética do HQ. Um execelente trabalho de resgate historiográfico e memorialista.
    Como o amigo Marcos Ian, eu também gostaria de utilizar suas imagens em minha dissertação, e quero referenciá-lo merecidamente de acordo com as normas legais.
    Gostaria de saber também se você possui (e poderia me fornecer gentilmente)algum exemplar (cópia, é claro) da revista Gibi que tenha o Curso de Desenho do prof. suiço Jean Pierre Chabloz, publicado todas as sextas-feiras no ano de 1941.
    Será uma grande contribuição de sua parte para minha pesquisa.
    Desde já, te agradeço a atenção!
    Certamente serei seguidor e divulgador de seu blog!
    Prof. Nertan Silva
    nertand@yahoo.com.br

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