terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PRESENTÃO DE NATAL


IAN GODOY


Quase inexistentes em 1929, as histórias de aventuras constituem em 1940 cerca da metade da produção das histórias em quadrinhos. Este sucesso iria dar origem a uma linhagem tão monstruosa como a das Átridas: as revistas de histórias em quadrinhos. A primeira revista surgiu em 1933: intitulava-se Funnies on Parade, e foi distribuida a título de propaganda pela produtora de produtos de limpeza e estética Procter and Gamble. Esta edição teve grande sucesso, o que levou a Eastern ColorPrinting Co. a produzir em maio de 1934 a primeira revista em quadrinhos comercial: Famous Funnies. As revistas se contentaram a princípio a reproduzir as séries aparecidas na imprensa. A primeira revista original, New Fun, apareceu em 1935 e continha uma variedade de histórias humorísticas. Mas foi a aventura, em grande parte plagiada das histórias contemporâneas, que fez a fortuna dessas revistas.

Desde janeiro de 1937, Detective Comics foi inteiramente consagrado as façanhas de um só herói. Enfim o Superman apareceu na edição de junho de 1938 da Action Comics. O Superman criado por Jerry Siegel e Joe Shuster está longe de ser o herói que conhecemos atualmente. Na época de sua criação, a capacidade intelectual do Homem de Aço não parecia superior à dos seus inimigos e, se não fosse por sua força inumana, ele se pareceria mais com Happy Hooligan que com o Ubermensh idealizado por Nietzsche. Dirigido especialmente para as crianças, Superman e seus companheiros iriam dar lugar, pelo seu irrealismo, sua irracionalidade e seu mau gosto, a controvérsias apaixonantes que ainda não se extinguiram.

Alley Oop (1934), criado por Vincent Hamlim e conhecido
por nós como Brucutú.
Malgrado esta invasão da história em quadrinhos pelos aventureiros e heróis de toda a espécie o humor não perdeu seu lugar. Temos a imortal criação de Elzie Segar, o marinheiro encrenqueiro Popeye (1929), o homem das cavernas Alley Oop (1934), criado por Vincent Hamlim e conhecido por nós como Brucutu, o humor inteligentíssimo de Al Capp em Li´l Abner (1934). Al Capp gozou entre os criadores das histórias em quadrinhos de um renome sem igual. Alguns o compararam a Rabelais e a Swift, e o romancista americano John Steinbeck chegou a escrever em 1953 que Capp era o maior escritor contemporâneo e que a comissão do prêmio Nobel deveria tomá-lo com toda a consideração. Mas sob esta aparência brilhante, a imaginação dos autores das histórias em quadrinhos já começava a se esgotar. Para remediar isso, os sindicatos apelaram para as revistas The Little King de Soglow, e do New Yorker e Henry conhecido por nós como Pinduca, de Carl Anderson do Saturday Evening Post e sobretudo ao desenho animado. A variedade de histórias em quadrinhos americana é então infinita.

Em 1940 os comics apresentam um panorama de dimensão impressionante e sua força de expansão explode. Então os grandes sindicatos inundam a Europa com suas produções que os europeus despejam deliberadamente na imprensa infantil. Todas as grandes séries são exportadas, menos A Pequena Orfã de Harold Gray e Krazy Kat de Herriman. As publicações ilustradas periclitam, a produção local marca passo. Mal pagos, ainda na maioria ligados na imprensa infantil, os desenhistas europeus não podem rivalizar com os Foster e os Raymond e as evoluções continuam a surgir. A Alemanha, após Witwe Knolle (1927), de Rudolf Rose, entra em cena Erich Ohser com o clássico Vater und Sohn (Pai e Filho – 1934), utilizando o pseudônimo de E. O. Planen. Totalmente diferente de Moon Mulins, essa história cheia de ternura e fantasia nos leva a conhecer o dia-a-dia de um casal burguês, especificamente um pai e seu filho.

A história em quadrinhos inglesa estagnou: o estilo do comics não chegou a se generalizar. As séries de aventuras surgidas então permanecem fiéis ao texto contínuo sob o quadrinho e estão nos limites do romance ilustrado. Na França, as séries antigas estão sempre bem vivas, com suas convenções obsoletas. Em 1934, após diversas tentativas, a história diária francesa apareceu, com 27 anos de atraso em relação aos EUA e 13 anos em relação a Grã-Bretanha. Na Itália persiste também a tradicional imagem infantil: Pampúrio, de Carlo Bisi (1929), Pier Cloruro de´ Lambicchi de Giovanni Manca de 1930. Mas a partir de 1932, a situação evolui rapidamente com a chegada das histórias americanas e a fundação de várias revistas para publicá-las. Apesar da produção italiana ser fracamente elaborada, quase beirando o ridículo, várias séries interessantes sobreviveram apesar do desenho inferior e do roteiro pueril: assim, Dick Fulmine de Carlo Cossio (1938), apareceu na França como Alain la Foudre. Tiveram também presença marcada o western de Rino Albertarelli, Kit Carson (1937), as histórias de aviação de Kurt Caesar, I Moschettieri dell´aeroporto Z, que assinava como Giacomo Avai, e a ficção científica de Frederico Pedrochi e Giovanni Scolari, Saturno contra la Terra e a criação de Walter Molina, Virus il Mago della Foresta Morta, ambas de 1937.Em 1938, as histórias em quadrinhos americanas foram proibidas de circular na Itália por motivos políticos. Pelo mesmo fenômeno que se reproduziu na França, esta desaparição, longe de favorecer a produção local, causa sua involução. As imitações medíocres das grandes séries americanas fervilham por toda a parte.

A CRISE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 1940-1948
http://pilsenoubock.blogspot.com/2006/11/breve-apanhado-da-histria-dos.html

Joe Sopapo...torna-se com a aquiescência do Departamento de Guerra, 
um dos mais eficazes porta-vozes da política intervencionista

Contrariamente à guerra de 1914-18 que não exerceu sobre as histórias em quadrinhos americana senão efeitos superficiais, a Segunda Guerra Mundial provocou uma profunda e duradoura agitação, tanto nos comics quanto na vida de seus criadores. Desde antes da entrada dos EUA na guerra e antes mesmo que o conflito tivesse oficialmente explodido na Europa, alguns desenhistas já tinham tomado uma posição definida sobre a questão. Desde 1937 os heróis de Milton Caniff inflingiam aos japoneses uma guerrilha sorrateira, enquanto que o agente secreto X-9, desenhado por Augustin Briggs, perseguia uma rede de espiões dirigida por um certo capitão Ludwig, cujo nome, o monóculo , a nuca raspada e o porte arrogante não deixavam dúvidas quanto à sua nacionalidade.

Desde o início das hostilidades em 1939, o ritmo se acelera. Se o governo americano se declara oficialmente neutro, os autores das histórias em quadrinhos não escondem o lado de suas simpatias. Enquanto alguns heróis se engajam na R.A.F., na armada canadense ou na Legião Estrangeira para combater os Hunos, outros permanecendo nos EUA se entregam a uma ativa e por vezes intensa propaganda pró-aliada, muitas vezes em oposição aberta aos jornais que as divulgam. E assim que em maio de 1940, enquanto os editores do New York Mirror pedem aos leitores para permanecerem de cabeça fria e não exigir uma resposta inspirada pela emoção, Joe Sopapo (que possue até uma estátua em sua homenagem), nas páginas do mesmo jornal, lança um vibrante apelo pró-intervenção americana. Quando esta intervenção aconteceu, finalmente em 8 de dezembro de 1941, o governo americano encontrou os desenhistas psicologicamente preparados para contribuirem com sua parte no esforço de guerra aliado. E, durante as hostilidades, essa colaboração não será pequena. Os comics, transformados em armas de propaganda, mantém a confiança dos G.I. e fortalecem o moral da retaguarda.

Como exemplo temos o engajamento de Joe Sopapo no exército americano e Ham Fisher, seu criador, torna-se com a aquiescência do Departamento de Guerra, um dos mais eficazes porta-vozes da política intervencionista. O exemplo de Joe Sopapo foi seguido com entusiasmo por outros heróis de histórias em quadrinhos que se encontrará logo em luta contra japoneses ou alemães nos locais mais variados. E assim que nos encontramos Jim das Selvas na Birmânia procurando impedir o avanço japonês; Captain Easy desfazendo as intrigas inimigas em todas as partes do globo; Scorchy Smith combatendo ao lado dos russos no fronte leste; Dick Tracy, X-9 e Charlie Chan lutando contra espiões e sabotadores. Nem mesmo Tarzan deixa de participar da luta: ele aniquila em 1942 um comando nazista que estava a ponto de estabelecer uma base secreta na África. No mesmo ano, Superman desmantela a muralha de submarinos no Atlântico, preparando a invasão aliada. Esta façanha forçará Goebbels, enraivecido, a exclamar em plena sessão do Reichstag: “O Superman é um judeu!”.


Goebbels, Superman e o sino da Liberdade.


Goebbels, chefe da Propaganda Nazista: "Superman é judeu!"




Mais do que qualquer outra, Terry e os Piratas foi a história em quadrinhos que refletiu mais fielmente a atitude americana após o ataque de Pearl Harbor e, pouco a pouco, as aventuras de Pat Ryan deram lugar as realidades de guerra. A guerra não somente agitou as características e numerosas histórias já estabelecidas mas suscitou outras como Buzz Sawyer (1943), de Roy Crane, o mesmo desenhista de Captain Easy e Johnny Hazard (1944), de Frank Robbins. Buzz Sawyer e Johnny Hazard eram principalmente lidos pelos civis, mas a guerra deu também nascimento as histórias mais especialmente destinadas aos militares. Três dentre elas não tardaram a concorrer em populariedade com as melhores séries comerciais : G.I. Joe, The Sad Sack e Male Call, todas as três criadas em 1942.

Primeiramente intitulada Private Breger, segundo o nome e seu autor Dave Breger, G.I. Joe não era uma história em quadrinhos convencional, mas uma sequência de desenhos com uma legenda sob cada quadrinho. Sátira sem maldade da vida militar, G.I. Joe teve um enorme sucesso tanto na frente quanto na retaguarda, e seu nome passou para o vocabulário para designar o soldado americano.

O Sad Sack, criado pelo sargento George Baker, é a personificação de um pobre diabo, recrutado por acaso e soldado por acidente. Há algo de patético neste pequeno homem, sempre caindo, porém sempre se reerguendo sem jamais maldizer quem quer que seja. Ainda que tenha mérito, suas ações voltam-se sempre contra ele. Ele é censurado por aquilo que faz como por aquilo que deixa de fazer e para ele nada é certo senão a perversidade do mundo.




Chamado para produzir uma história especialmente para os G.I.´s, Milton Caniff criou Male Call cuja heroína, Miss Lace, é uma bela garota nada tímida e bem pouco vestida, cujos contatos inocentes com os militares de todas as hierarquias e de todas as armas constituem o foco de intriga. Desenhado na melhor tradição caniffiana, Miss Lace conheceu junto aos soldados um verdadeiro sucesso e figurou em alta em mais de um acampamento militar, pregada a parede ao lado das fotos de atrizes como Rita Hayworth e Lana Turner. Certos desenhistas contribuiram mais do que com sua pena e seu talento no esforço de guerra. Bert Christman, um dos desenhistas de Scorchy Smith, se engajou na aviação naval americana antes de se juntar aos Tigres Voadores, a célebre formação comandada pelo coronel Chennault. No dia 23 de janeiro de 1942, ele foi abatido nos céus da Birmânia num combate aéreo enfrentando aparelhos japoneses que foram bombardear Rangoon. Em 1944, Alex Raymond foi convocado como capitão dos fuzileiros navais, e serviu como oficial encarregado das relações públicas até o fim da guerra. Depois de sua partida, Jim das Selvas foi desenhado por vários artistas medíocres, entre eles James Raymond, irmão de Alex, e essa história terminou em 1954.

 Desenhada na melhor tradição caniffiana, Miss Lace conheceu junto aos soldados um verdadeiro sucesso e figurou em alta em mais de um acampamento militar, pregada a parede ao lado das fotos de atrizes como Rita Hayworth e Lana Turner.





Entretanto, nem todas as histórias em quadrinhos desta época foram inspiradas pela na guerra. Alfred Andriola abandonou, em 1942, Charlie Chan para criar no ano seguinte Kerry Drake, um simpático detetive de cabelos louros, cujas aventuras ligadas quase sempre ao ambiente cotidiano são sempre verossímeis. Os crimes são reais, ou poderiam sê-lo, os personagens são muito pitorescos sem cair no exagero que consagrou Dick Tracy, e as técnicas policiais são escrupulosamente autênticas. Contrastando com eventos da época, em 1942 apareceu uma história que amalgamou a fantasia de Little Nemo ao humor de Krazy Kat: foi Barnaby de Crockett Johnson. Barnaby, um garoto de inteligência viva, habitava um universo fantástico, paralelo ao prosaico e chato mundo dos adultos, no qual ele se introduziu seguindo o Sr. O’Malley, um gênio falador e charlatanesco cuja varinha de condão é um charuto. O desenho de Johnson, nítido e harmonioso, é bastante agradável aos olhos. Seu traço é simples e a ação é descrita com grande economia de meios. Os cenários estilizados e os balões impressos e não letreirados a mão aumentam ainda mais a simplicidade desta história. Porém, Crockett Johnson, de espírito independente e boêmio, não pode suportar por muito tempo um trabalho cotidiano. A história, que ele abandonou em 1946, foi continuada por Jack Morley e Ted Ferro, desaparecendo de vez em 1954.


1946 - Alex Raymond cria “Rip Kirby


 


Na Europa, durante esse tempo, a história em quadrinhos está as voltas com a falta de papel e tinta com as propagandas e com a lembrança das histórias americanas que não chegavam mais. As revistas italianas substituiram todos os heróis americanos por imitações locais. Topolino, o Rato como ficou conhecido Mickey Mouse na Itália veio a ser Tuffolino, um garoto, e assim por diante. Na França, na zona não ocupada, O Principe Valente, Os Sobrinhos do Capitão, Connie, Popeye e os personagens da Disney continuaram até a entrada dos Estados Unidos na guerra. Mas o favor oficial voltava-se as tradicionais historietas em imagens consagradas aos heróis nacionais, particularmente aqueles que combateram os ingleses: Duguesclin, Jean Bart Surcouf, Jeanne D´Arc e Montcalm se agitam nos quadrinhos; desenho execrável, impressão ignóbil.

Devido a pressão para a volta as tradições nacionais, a própria história em quadrinhos era mal vista; houve uma reversão à antiga fórmula dos jornais infantis: romances, ilustrações bastante numerosas, mas nenhuma história em quadrinhos, tal é a fórmula de Siroco, o melhor jornal juvenil da zona livre. Enquanto isso , na zona ocupada, uma revista nazista, O Temerario – Le Temeraire (1943-44), doutrina seus leitores e, sob o disfarce de clube de assinantes, tenta lançar a semente das juventudes hitleristas organizadas. Dedicava um grande espaço para as histórias em quadrinhos; os vilões tinham cara de fuinha e o nariz adunco e se chamavam Orloff ou Venine. Porém, a lembrança de Flash Gordon, de Mandrake, como aconteceu na Itália, levaram muitos desenhistas a imitá-los... O fim da guerra não melhorou a situação. Ele veio mesmo paradoxalmente precipitar o declínio da história em quadrinhos americana que se tornou cruelmente visível desde 1946: as histórias humorísticas não são mais tão divertidas e as de aventuras parecem ter perdido seu espírito. Caniff, Hogarth e Raymond quiseram todos os três, cada um a sua maneira, fazer uma renovação da história de aventuras.

Raymond criou em 1946 o antigo fuzileiro naval Rip Kirby, hoje detetive particular e tentativa de Alex em apresentar o intelectual como herói. Procedendo Rip Kirby de Raymond, Drago de Burne Hogarth apareceu em novembro de 1945 e a história leva muito da atmosfera de Tarzan. A ação de Drago não mais se situa na África e sim na Argentina , porém logo reencontramos o universo caro ao autor: as paisagens atormentadas e as sombras sinistras. Apesar de sua efêmera existencia (1945-47) esta história é uma das mais curiosas e dignas de interesse. Em janeiro de 1947, Milton Caniff criou o seu herói Steve Canion, antigo capitão da Força Aérea e diretor de uma companhia de aviação à beira da falência.Apesar das pressões de um público ávido somente de evasão fácil e de conforto intelectual, os esforços destes três mosqueteiros não foram inúteis e abriram a outros o caminho que eles haviam traçado.

Don Winslow, da Navy
PERÍODO DE 1940 A 1948.
Este período transcorre sob a influência da 2ª Grande Guerra Mundial, que provoca “grande agitação não somente nos quadrinhos, mas na vida de seus criadores” (Coupèrie, 1970).
Alguns fatos que desencadearam essa agitação foram:

1º) A proibição das HQ’s americanas em 1938 na Itália e posteriormente, na França, Alemanha e URSS, gerando uma série de imitações me¬díocres de personagens e histórias que haviam se difundido por toda a parte. Na Itália, em substituição a “Topolino”, o rato Mickey, apareceu “Tuffolino”, um garoto; na França não-ocupada, são prestigiados heróis nacionais como Duguesclin, Jean Bart, Jeanne D’ Are, Montcalm, sem nenhum atrativo peculiar; na França ocupada, uma revista nazista, Le Téméraire (O Temerário), procura doutrinar seus leitores para o nazismo.

2º) Na França, organizações religiosas e escolares, confundindo todas as HQ’s com a proibição política que havia sido feita dessas mesmas histórias, opuseram-se contra toda e qualquer publicação de revistas de HQ. O partido comunista apresentou projeto de lei que visava a proibição de toda HQ estrangeira, projeto esse que foi rejeitado e retomado de forma mais suave pelos católicos, que criaram uma comissão de fiscalização das produções em quadrinhos em 1949.

3º) Problemas e obstáculos econômicos, tais como falta de papel e tinta, dificultavam a produção das HQ’s na Europa.

4º) Mesmo antes da entrada dos EUA na Guerra, e, até mesmo antes de se ter desencadeado o conflito europeu, alguns desenhistas já haviam tomado posição sobre a questão que eclodiria na Segunda Grande Guerra Mundial. Vêem-se, por exemplo, os heróis de Milton Caniff lutando contra os japoneses, o agente secreto X-9 perseguindo uma rede de espiões dirigida por um capitão alemão, outros heróis se enquadrando na RAF para combater os hunos, ou, de forma mais explícita, um Joe Sopapo lançando um veemente apelo para que os EUA interviessem na guerra e abandonassem sua posição de neutralidade.

5º) Com a entrada dos EUA na Guerra, a 8 de dezembro de 1941, os desenhistas de HQ colaboraram com o governo americano, transformando seus personagens e suas histórias em verdadeiras armas de propaganda. Joe Sopapo, Jim das Selvas, Dick Tracy, Scorchy Smith, Charlie Chan, Tarzan, O Super-Homem, Terry e outros entraram em luta contra os japoneses, desfizeram intrigas inimigas, derrotaram espiões e sabotadores, estabeleceram bases secretas na África, enfim, tomaram parte ativa na Guerra.

6º) Além das HQ’s destinadas aos civis, muitas delas foram especialmente dedicadas aos militares, verdadeiras sátiras narrando acidentes e peripécias da vida militar como Private Breger, como G. I. Joe de D. Breger, ou Sad Sack de George Baker, que tiveram grande su¬cesso tanto na frente de guerra como na retaguarda. Milton Caniff foi chamado para produzir uma história especialmente para os “G.I’s”, e então criou Male Calt com Miss Lace, como heroína, uma garota pouco tímida e pouco vestida que se entregava a aventuras inocentes com os militares. Para dizer da popularidade de Miss Lace, basta lembrar que sua imagem foi encontrada em vários acampamentos militares ao lado das fotos de Rita Hayworth e Lana Turner.

7º) Alguns desenhistas, afastados de suas funções para se alistarem nas forças armadas, interromperam sua produção. Esta foi entregue a outros desenhistas, nem sempre tão talentosos. É o caso de Bert Christman, um dos desenhistas de Scorchy Smith, e de Alex Raymond, criador de Jim das Selvas e Flash Gordon.

8º) Mesmo depois de cessada a Guerra, que custou 30.000.000 de vidas humanas, a situação de declínio das HQ’s não melhorou tão rapidamente. Havia um “certo constrangimento dos humoristas em serem engraçados”, o que é muito fácil de se compreender.

Sob a influência desses fatores é que as HQ se desenvolveram de 1940 a 1948, o que torna sua evolução nessa fase bastante lenta e bem menos explosiva do que no período anterior. Pode-se ver a seguir, em síntese, o que emergiu desse período tormentoso, além da utilização dos heróis para a causa militar.

- 1940 – Criação do Capitão Marvel (SHAZAM!) na Fawcett Comics. A sabedoria de Salomão, a força de Hércules, a resistência de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio compunham o conjunto de personagens mitológicos que alimentavam de poder o jovem jornaleiro Billy Batson, quando este pronunciava a palavra SHAZAM!
- Das mãos de Joe Simon e Jack Kirby, nasce o Capitão América. No auge da Segunda Guerra Mundial, editores da Timely Comics (atual Marvel Comics) tiveram a idéia de criar um supersoldado que simbolizá-se o sentimento de patriotismo que crescia com a cada vez mais com a aproximação da entrada na guerra pelos EUA. Assim, Steve Rogers, um jovem franzino, voluntário das forças armadas, foi escolhido para participar do Projeto do Supersoldado, sendo o primeiro e único. Sua arma, um escudo, seu uniforme, a bandeira, seu lema, a liberdade. O Capitão América foi usado como influência para o alistamento voluntário de jovens, quando da entrada dos EUA na guerra.

- Nasce Carter Hall, o Gavião Negro. Reencarnação de um príncipe egípcio antigo, combate o crime usando asas emplumadas, uma máscara com bico e uma maça.

- Joel Ciclone aparece pela primeira vez. Trata-se da primeira versão do Flash, o maior velocista do mundo dos quadrinhos. Após inalar um conjunto de produtos químicos, Jay Garrick adquire seus poderes.

- Surge o primeiro Lanterna Verde. Alan Scott adquire com um alienígena um anel que pode materializar pensamentos.

- O primeiro grupo de heróis dos quadrinhos é formado: A Sociedade da Justiça, formado por Flash, Lanterna Verde, Gavião Negro, Átomo, Espectro, Homem-Hora e Sr. Destino.

- 1941 – Surgem Mulher Maravilha e Aquaman. Ela é uma embaixadora amazona, que luta pelo bem usando um laço mágico e um jato invisível e ele um filho de cientista treinado para sobreviver debaixo d’água.

- 1942 - Aparecem as já citadas criações: “G. I. Joe”, “Sad Sack” e “Male Calt”.

- Alfred Andriola, o criador de “Charlie Chan”, lança “Kerry Drake”, um detetive que vive aventuras inverossímeis.

- Crockett Johnson produz “Barnaby”, um garoto de inteligência viva, que habita um mundo fantástico de elfos, gnomos, duendes como Lancelot, McSnoyd, um duende irônico, Gus, um tímido fantasma, e Gordon um assustado cão falante. Esta história, pelo seu assunto contrastante com a época, é uma exceção na tendência dos quadrinhos desses tempos. No Brasil, Barnaby apareceu como tira diária de O Estado de São Paulo.

- 1943 - Roy Crane cria Buzz Sawrey (Jim Gordon), piloto da aviação naval com suas aventuras no Pacifico.

- Walt Kelly lança o personagem “Pogo”, que ganhará relevo mais tarde numa HQ que é sátira à sociedade norte-americana, através de animais humanizados.

1944 - Frank Robbins lança “Johnny Hazard”, piloto que realiza suas aventuras nos quatro cantos do mundo.

- 1946 - Alex Raymond cria “Rip Kirby”, antigo comandante dos fuzileiros navais que, de volta à vida civil, se torna detetive particular. Kirby resolve inteligentemente seus casos e não apenas com sua força física. Trata-se de um herói intelectual.

- Para incentivar a produção das HQ, a National Cartoonists Society (N.C.S.), associação encarregada de defender os interesses artísticos e profissionais dos desenhistas, lançou nos EUA o “Reuben” (espécie de “Oscar” dos comics, no dizer de Moya, 1970). Trata-se de uma estatueta que representa um quarteto de horrendos gnomos, fazendo ginástica. O Reuben deveria ser entregue ao melhor desenhista do ano.

- Na Bélgica, aparece o semanário Tintin, que retoma o personagem criado por R. Velter, antes da guerra: “Spirou”, um jovem de roupa vermelha que se tornou um dos mais conhecidos heróis da Europa.

- Na Bélgica, Morris cria “Lucky Luke”, cowboy cheio de bom humor.
- 1947 - Milton Caniff cria “Steve Canyon”, antigo capitão da Força Aérea, diretor de uma companhia de aviação, em constante perigo de falência, o que obriga Canyon a aceitar missões perigosas.

- 1948 - Na Itália, G. BoreIli e A. Oallopini lançam “Tex Willer”, em aventuras no Oeste.

- Na Inglaterra, o Daily Mirror lança HQ para adultos com Buck Ryan, de Jack Monk, série de ficção científica; Garth de Steve Dowling (desenho achuriado) e Jane de Pett, personagem criada em 1932, e que fazia de 12 em 12 quadrinhos um strip-tease. (Perry & Aldridge, 1971).

Esse tempo realmente representa um período de declínio para as HQ, que encontra, a seguir, na década de 50, um período de renovação.

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