terça-feira, 17 de abril de 2012

O FASCÍNIO DOS GIBIS



Às vezes, costumo me questionar: Por que gosto tanto de gibis? Sério! Com tanta coisa importante no mundo, dispender tanto tempo e esforço por algo aparentemente fútil chega a ser ridículo, principalmente em tempos em que boa parte do romantismo que circundava os gibis mingou sem deixar rastros.


O Guri Cômico, 157. O desenhista da capa 
errou ao deixar nus, o dorso e os braços 
de Escarlate e Pinky.

Na verdade, entendo que os gibis não são apenas mera distração ou simples diversão. Ele constitui uma maneira singular de comunicação de massa que se encontra arraigada na cultura, não apenas brasileira, mas de boa parte deste planeta.


The Funnie, 81. Phantasmo, o senhor do Universo e 
Capitão Meia Noite, que veio do rádio, antes de vestir
a indumentária escarlate da editora Fawcett.

Cresci cercado pelas revistas de quadrinhos e suas referências simbólicas no enfrentamento do bem contra o mal. Parodiando Gilberto Gil, posso afirmar que elas foram uma etapa necessária que me deram “régua e compasso” para enfrentar a realidade cotidiana porque me ajudaram a desenvolver juízos estéticos, noções de justiça e de posturas sociais crítica, tolerante e de aceitação das diversidades.


Álbum Gigante, 39, editora EBAL, 
de Aizen, com Pedrinho e Célia.

Desta forma, acredito, contribuiram decisivamente para desenvolver e aprimorar, desde os primórdios de minha educação formal, uma disponibilidade cultural, essencial para minha evolução como homo sapiens. Tudo isto me ajudou a amadurecer a ideia de que é sempre relativa a real importância das coisas.


Primeiro e único Almanaque do Gibi de São João. Tinha 260
páginas e publicou HQs à cores de vários personagens.

Sendo assim, sem piegas ou exageros, partindo do viés descrito, considero os quadrinhos uma forma de comunicação de massa essencial ao aprimoramento cognitivo e afetivo de crianças, adolescentes e adultos porque utiliza didáticas lúdicas e lúcidas efetivas e excepcionais. Talvez seja por isto que eu gosto tanto de gibis.

O resgate do tempo perdido
Ainda hoje, ao ler (ou reler) um gibi, um blog ou um fanzine, experimento as mesmas emoções, ainda vivas, que experienciei, no passado, quando tinha em mãos os vários gibis que passaram por meus olhos de infante.




Se não estou enganado, o meu primeiro contato com o gibi foi em 1942. Tinha simplesmente cinco aninhos (setenta, a menos, de que tenho hoje) e, lógico, ainda não sabia ler (as palavras) com a necessária competência, mas conseguia “ver”, admirar e entender (até certo ponto) as intenções expressas pelas imagens em preto e branco ou coloridas, estas em sua minoria. Digo até certo ponto porque costumava fazer uma deliciosa mistura de minha ingenuidade e inocência fantasiosas com o não menos fantasioso e fantástico mundo dos quadrinhos, que se descortinava, sedutor, ante meus olhos abertos, ávidos e com o brilho do fascínio. Foi, sem dúvida, a época em que vivi, com toda intensidade, a magia dos gibis. (José Queiroz)
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­___________________________________


O GLOBO JUVENIL TRISEMANAL


As capas dos gibi e globo juvenil trissemanais funcionavam
como vitrines para numerosos temas: políticos, educacionais,
históricos e, principalmente, para promover os Almanaques 
e as edições  dos Gibi Mensal e Globo Juvenil Mensal.

Hoje vou privilegiar as capas (e contracapas dos gibis), em detrimento dos posts de HQs. E você, amigo leitor, pode, se quiser, fazer o download das imagens para seu arquivo. 

Irei comentar (outra vez), com bastante brevidade, a revista-tablóide  (tamanho meio jornal tradicional), O Globo Juvenil trissemanal, uma publicação infanto-juvenil lançado em 1937 pelo editor-chefe Roberto Marinho (que construiu parte de seu império jornalístico, com o dinheiro dos gibis que vendeu), como forma de competir com o Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen, que aparecera em 1934. [1]

Capa com temática política parabenizando os quatro
anos do Estado Novo sob o comando do ditador
Getúlio Dorneles Vargas - um deus para seus seguidores
(principalmente a população mais pobre) e um demônio 
para os opositores.


Tinha sessões diversas como a de contos de variados gêneros (policiais, aventura e etc), curiosidades históricas e outras que mantinha o leitor-mirim bem informado, fábulas e provérbios, fatos históricos que aconteceram no dia da publicação como o calendário universal, o calendário patriótico e o calendário musical, e, lógico, suas histórias em quadrinhos clássicas dentre as quais se destacavam "O Fantasma", "Mandrake, o mágico", "Flash Gordon", "Superman", "The Lone Ranger (Zorro)", "Brucutu", "Príncipe Valente", "Ferdinando" e vários outros que fizeram parte da "Primeira Era de Ouro dos Quadrinhos".[1]

Periodicidade e formato
Capa histórica com Ana Neri a heroína baiana (nascida em Cachoeira, Bahia, em 13 de dezembro de 1814 e falecida no Rio de Janeiro em 20  de maio de 1880). Ana Justina Ferreira, era enfermeira e lutou na guerra do Paraguay, acompanhando seus filhos, oficiais do exército e um irmão major do mesmo exército brasileiro. Foi, ainda, a pioneira brasileira da enfermagem.

Começou como uma publicação trissemanal lançada às terças, quintas e sábados em formato tablóide, com 16 páginas em papel-jornal.[1] No total foram 2051 edições, indo de 1937 a 1952. Seu cancelamento ocorreu devido à mudança de estratégia da editora, fazendo com que cada personagem ganhasse sua própria revista em quadrinhos.
  
Capa-vitrine anunciando uma HQs de O Escaravelho  - plágio do personagem Blue Bettle da editora Holyoke publicado pela
editora Fox, que teve mais sucesso no Brasil que o original. 

Novo o Globo Juvenil - o Fim do Princípio
Após o número 1986 ganhou novo formato e maior número de páginas passando a se chamar "Novo O Globo Juvenil" com histórias completas. Por fim, já pela Rio Gráfica Editora, circularia ainda com mais 44 edições encerrando definitivamente em 1954. Havia também uma publicação mensal (O Globo Juvenil Mensal) que durou 273 edições, durante o período de 1940 a 1963, além dos Almanaques, lançados nos Natais de 1941 a 1964, totalizando 20 edições.
 A mutação dos gibis
Comparando gibi e cinema, os gibis ingênuos (e deliciosos) do passado vêm superando, no presente, a qualidade dos filmes exibidos pelas telas prateadas. Enquanto as produções hollywoodianas se mostram infantilizadas e se limitam, tão somente (e ironicamente), a priorizar os personagens de HQs, os quadrinhos estão se tornando mais e mais rebuscados, criando roteiros inteligentes, de excepcional padrão estético e cognitivo.

Para exemplificar, postei este exemplo do novo gibi para sua avaliação, amigo leitor. Não se trata de um exemplar de vanguarda. Mostra-se até bem próximo das revistas tradicionais de super-heróis, mas não se pode negar o maior grau de complexidade de  seu roteiro. Trata-se de (mais) uma tentativa de refundar o perfil de O Raio (The Ray), antigo herói da Primeira Idade de Ouro dos Gibis. Atente para a densidade do argumento e a qualidade da equipe criativa.

 Referências
1. ↑ a b c d , Gonçalo Junior Editora Companhia das LetrasA guerra dos gibis: a formação do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos, 1933-19642004ISBN 8535905820, 9788535905823

Nenhum comentário:

Postar um comentário